PET COMPLEMENTAR – 1º BIMESTRE
CONTO DE ENIGMA
SEMANA 2 - LEITURA
PARA
SABER MAIS
Gênero: Conto de enigma
O conto de enigma narra a trajetória de uma personagem
que precisa desvendar um enigma ou um crime por meio de pistas.
Público-alvo:
leitores interessados em desvendar enigmas.
Objetivo
de quem escreve: fazer o leitor se envolver com a narrativa
para desvendar o enigma apresentado.
Organização:
▪
O tempo e o espaço são descritos de
forma reduzida. Por vezes, não são determinados.
▪
O narrador pode ser personagem,
observador ou onisciente.
▪
O conflito desenvolve-se em torno de um
enigma a ser desvendado.
▪
Há poucas personagens, geralmente o
investigador/detetive, os suspeitos, as testemunhas e as vítimas, em casos de
crime.
Sequência narrativa:
1. situação
inicial;
2. complicação,
em que surge o enigma a ser desvendado;
3. desenvolvimento,
em que acontece a investigação por meio de pistas;
4. clímax,
momento em que se dá a resolução do enigma;
5. desfecho,
com as consequências ocorridas após a resolução do enigma.
Linguagem: Em
geral, o registro é formal, mas pode ocorrer registro informal em diálogos.
Há uso de substantivos que remetem ao campo semântico dos enigmas como crime,
vítima, pistas, álibi, suspeito, etc.
|
Texto 1
Narrativa de Enigma - PARTE I
Nas narrativas de enigma sempre tem um crime ou um mistério a ser
desvendado. Então por isso nessas histórias quase sempre existem
personagens como a figura de um
detetive ou de alguém que desempenha um papel de esclarecer o enigma
tornando-se um herói após desvendar todo o
"problema". As investigações do conto e os enigmas são revelados por meio de um raciocínio lógico; com o passar
do conto os possíveis culpados e
novos suspeitos ganham destaque na narrativa, entre outros.
Enredo, Personagens e Narrador
A narrativa de enigma tem como personagens o criminoso, a
vítima, os suspeitos e o detetive. Este personagem tem
como característica fundamental o fato de nunca demonstrar medo ou descontrole emocional.
A narrativa se desenvolve a partir de
um crime cometido, e o leitor acompanha todos os procedimentos da investigação,
por meio do olhar do narrador. Uma das características da narrativa de enigma é o fato de que a história da investigação é frequentemente
contada por um amigo do detetive, no no papel de narrador. Esse, na maioria das
vezes, reconhece estar escrevendo um livro e, assim como o leitor, desconhece o
que vai acontecer, ao longo da história - o que ajuda a criar o suspense......
De modo geral, pode-se dizer que a
narrativa de enigma tem um único detetive, uma vítima e um culpado. O culpado não deve ser o detetive, nem alguém muito óbvio para o leitor: a governanta, a
camareira, o mordomo. Não há desenvolvimento de romances ou paixões; não há aprofundamento na descrição psicológica, apenas o suficiente para o
leitor compreender a mentalidade do criminoso e, principalmente, nada pode ser explicado pelo acaso ou pelo sobrenatural. Tudo deve ser explicado de
modo racional....
A Linguagem
Nestas narrativas o uso de adjetivos e locuções adjetivas auxiliam na
caracterização do ambiente sombrio. São
comuns expressões como: homem de ferro, grito de agonia, novo som, grito mais
alto, grito muito mais perto, último grito desesperado, noite
silenciosa, grito desesperado, murmúrio baixo, pancada forte e ensurdecedora, noite
sem vento.
De grande importância também é o papel dos advérbios: rapidamente, imediatamente, que dão à cena rapidez nas
ações de
investigação por parte do
detetive e seu ajudante.
Sherlock Holmes
O mais famoso dos detetives. O detetive Sherlock Holmes é britânico, culto, um verdadeiro
aristocrata, criado por Conan Doyle (1859-1930). Holmes desvenda seus mistérios de maneira sutil e elegante. O
detetive, protagonista de aventuras interessantes, chegou a ser tão famoso que
muita gente não acredita que seja uma personagem. Seu amigo inseparável, John Watson, é o narrador dos seus casos. Watson é inteligente, mas o mestre o supera de
longe, no uso do raciocínio dedutivo....
Agatha Christie
Chamada de "a rainha do crime", Agatha Christie
foi autora de cerca de 84 romances policiais, escritos ao longo de meio século. Foi a criadora do famoso
detetive Hercule Poirot e de Miss Marple, simpática velhinha inglesa, perspicaz na observação de detalhes da conduta
humana.
https://igormurilos2.blogspot.com/2012/10/o-que-e-narrativa-de-enigma.html
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/tecnicas-de-redacao-narracao-o-enigma.htm
UM CRIME QUASE
PERFEITO - Robert
Arlt
As alegações dos três irmãos da suicida
foram checadas. Não tinham mentido. O mais velho, Juan, permanecera das cinco
da tarde até a meia-noite (a senhora Stevens se suicidou entre sete e dez da noite)
detido numa delegacia, por sua imprudente participação num acidente de trânsito. O segundo irmão, Esteban,
estivera no povoado de Lister desde as seis da tarde daquele dia até as nove do seguinte.
Quanto ao terceiro, doutor Pablo, ele não se afastara em nenhum momento do
laboratório de análise de leite da Cia.
Erpa, mais exatamente do setor de doseamento da gordura.
O curioso é que, naquele dia, os três irmãos tinham almoçado com a suicida,
comemorando seu aniversário, e ela, por sua vez, em nenhum momento deixara
entrever uma intenção funesta. Todos comeram alegremente e, às duas da tarde, os
homens se retiraram.
Suas declarações coincidiram em tudo com as da criada que, desde muitos
anos trabalhava para a senhora Stevens. Essa mulher, que não dormia no emprego,
às sete da noite foi para casa. A última ordem que recebeu foi a de dizer ao porteiro que
trouxesse o jornal da tarde. Às sete e dez o porteiro entregou o
jornal à senhora Stevens, e o que fez esta antes de matar-se pode ser presumido
logicamente. Revisou os últimos lançamentos da
contabilidade doméstica, pois a livreta estava na mesa da copa, com os gastos do dia
sublinhados. Serviu-se de uísque com água e nessa mistura deixou cair,
aproximadamente, meio grama de cianureto de potássio. Pôs-se a ler o jornal, depois bebeu o
veneno e, ao sentir que ia morrer, levantou-se, para logo tombar no chão
atapetado. O jornal foi achado entre seus dedos contraídos.
Tal foi a primeira hipótese, construída a partir de um conjunto de coisas
pacificamente ordenadas no interior da residência, mas esse suicídio estava carregado de absurdos psicológicos e não queríamos aceitá-lo. No entanto, só a senhora Stevens
podia ter posto o veneno no copo. O uísque da garrafa não continha veneno. A água misturada também era pura. O veneno,
claro, podia estar no fundo ou nas paredes do copo, mas esse copo tinha sido
retirado de uma prateleira onde havia uma dúzia de outros iguais: o eventual
assassino não havia de saber qual copo a senhora Stevens escolheria. De resto,
o laboratório da polícia nos informou que
nenhum copo tinha veneno em suas paredes.
A investigação
não era fácil. As primeiras
provas – provas mecânicas, como eu as chamava – sugeriam que a viúva morrera por suas próprias mãos, mas a
evidência de que, ao ser surpreendida pela morte, estava distraída na leitura do jornal, tornava
disparatada a ideia de suicídio.
Essa era a situação
quando fui desligado por meus superiores para continuar a investigação. A
informação de nosso laboratório era categórica: havia veneno no
copo que a senhora Stevens usara, mas a água e o uísque da garrafa eram inofensivos. O
depoimento do porteiro era igualmente seguro: ninguém visitara a senhora
Stevens depois que lhe entregara o jornal. Se após as diligências iniciais eu
tivesse concluído o inquérito optando pelo
suicídio, meus superiores
nada teriam objetado. Porém, concluir o inquérito nesses termos era a confissão de um
fracasso. A senhora Stevens tinha sido assassinada e havia certo indício: onde estava o envoltório do veneno? Por
mais que revistássemos a casa, não
encontramos a caixa, o envelope ou o frasco do tóxico. Aquilo era
eloquente.
E havia outra
questão: os irmãos da
morta eram três malandros. Os três, em menos de dez anos tinham posto fora os
bens herdados dos pais, e seus atuais rendimentos não eram satisfatórios: Juan
trabalhava como ajudante de um advogado especializado em divórcios. Mais de uma
vez sua conduta anterior se mostrara suspeita, dando margem à presunção de
chantagem. Esteban era corretor de seguros e havia feito um seguro para sua
irmã, sendo ele mesmo o beneficiário. Quanto a Pablo era veterinário, mas
tivera seu registro profissional cancelado pela justiça após ser condenado por
dopar cavalos. Para não morrer de fome empregara-se na indústria leiteira, no
setor de análises.
Assim eram os
irmãos.
Já a senhora Stevens tinha enviuvado três
vezes. No dia de seu “suicidio”estava completando 68 anos, mas era uma senhora
extraordinariamente conservada, corpulenta, forte, enérgica, de cabelos viçosos,
e tinha condições de pretender novo casamento. Dirigia a casa com alegria e
pulso firme. Adepta dos prazeres da mesa, sua despensa estava magnificamente
provida de vinhos e comestíveis, e não há dúvida de que sem aquele
“acidente"teria vivido cem anos. Supor que uma mulher como ela seria capaz
de suicidar-se era desconhecer a natureza humana. Sua morte beneficiaria cada
um dos seus irmãos com duzentos e trinta mil pesos.
O cadáver foi descoberto pelo porteiro e pela
criada às sete da manhã, quando esta, não conseguindo abrir a porta, que estava
trancada por dentro, chamou o homem para ajudá-la. Às onze da manhã como creio
ter dito anteriormente, estava em nosso poder a informação do laboratório. Às
três da tarde, eu deixava o quarto em que estava detida a empregada, em sua
própria casa, com uma ideia na cabeça: o assassino arrancara um vidro da janela
para entrar na casa e após deitar veneno ao copo recolocara o vidro no lugar.
Era uma fantasia de romance policial, mas convinha verificar a hipótese.
Saí da residência da senhora Stevens
decepcionado. Minha especulação era falsa. A massa dos vidros não tinha sido
removida.
Decidi
caminhar e pensar um pouco, o “suicídio" da senhora Stevens me preocupava bastante.
Não policialmente, mas diria, esportivamente. Estava diante de
um assassino sagaz, possivelmente um dos três irmãos, que se valera de
um expediente simples e ao mesmo tempo misterioso, impossível de ser detectado na
nitidez daquele vazio.
Absorvido em
minhas conjeturas, entrei em num café, tão ausente do mundo que, embora detestasse bebidas
alcoólicas, pedi um uísque. Quanto tempo
esteve a bebida a ser tocada, diante dos meus olhos? Não sei. De repente, vi o
copo de uísque, a garrafa d’água, o pratinho com gelo. Atônito, fiquei olhando
aquilo, o pratinho com gelo. Uma hipótese dava grandes saltos em meu cérebro.
Chamei o garçom, paguei a bebida que não tomara,
embarquei num táxi e fui à casa da criada. No quarto, me sentei à frente dela.
-
Olhe nos meus olhos - disse-lhe-, e veja bem o que vai
responder: a senhora Stevens tomava uísque com gelo ou sem gelo?
-
Com gelo senhor.
-
Onde comprava o gelo?
-
Não comprava senhor. Em casa há uma geladeira pequena que faz
gelo em cubinhos - e a criada, como acordando, prosseguiu: - Agora me lembro, a
geladeira estava estragada. Ontem, o senhor Pablo a consertou num instante.
Uma hora
depois nos encontrávamos
na residência da senhora Stevens: o químico do nosso laboratório, o técnico da
fábrica que vendera a geladeira, o juiz de instrução e eu. O técnico retirou a
água do depósito do congelador e vários cubinhos de gelo. O químico iniciou seu trabalho e, minutos depois,
disse:
-
A água está envenenada, os cubos também.
Olhamo-nos contentes. O mistério tinha
terminado.
Agora era um mero jogo a reconstituição do
crime. o doutor Pablo, ao trocar o fusível da geladeira (era este o defeito
segundo o técnico), lançara no congelador certa quantidade de veneno dissolvido
em água. Sem suspeitar, a senhora Stevens preparara o seu uísque. Retirara um
cubinho do congelador (o que explicava o prato com gelo derretido, encontrado
na mesa) e o colocara no copo. sem esperar que a morte a esperava em seu vício,
passara a ler o jornal, até que, julgando o uísque suficientemente gelado,
tomara um gole. Os efeitos não tardaram.
Às onze, o juiz, meu superior e eu nos
apresentamos no laboratório da Erpa. o doutor Pablo, quando nos viu em grupo,
levantou o braço como se quisesse anatematizar as conclusões. Abriu a boca e
despencou ao lado de uma mesa de mármore. Um infarto o matara. em seu armário
estava o frasco do veneno. Foi o assassino mais engenhoso que conheci.
Roberto Arlt. Um crime quase perfeito. Trad. Sérgio Faraco. In: Flávio Moreira Costa
(org). Os 100 melhores contos de crime e mistério da literatura universal.
2.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p.607-609.
2- Leia o texto 1 -
Narrativa de Enigma e faça as atividades abaixo:
a)
Cite dois elementos que
sempre aparecem nas narrativas de enigma.
b)
Quais são os personagens
que sempre aparecem nas narrativas de enigma?
c)
Quem geralmente é o
narrador das narrativas de enigma?
d)
Quais são as
características do detetive? Qual é o mais famoso detetive da ficção?
e)
Quem é a “Rainha do Crime”?
Por que ela tem este título?
3-
Leia o texto 2 - “Um crime quase perfeito”e responda:
a)
Qual é o nome da vítima?
b)
Quais foram as últimas pessoas que viram a
vítima antes do crime?
c)
Quem narra este caso? Copie um trecho que
comprove a sua resposta.
d)
Qual é a primeira hipótese apresentada para a
morte da senhora Stevens? Por que o narrador crê que ela é disparatada?
e)
ausência de veneno nos outros copos do armário
reforça a ideia de assassinato ou de suicídio?
f)
Qual era a situação dos irmãos da vítima? Essa
situação faz deles suspeitos em potencial?
g)
Por que Pablo se tornou o suspeito número 1,
após a análise da água descongelada?
assassino
foi preso? O que aconteceu?
5-
Os acontecimentos abaixo compõem uma história policial e estão apresentados
fora de ordem. Imagine que eles são tópicos a partir dos quais você irá
escrever uma história policial. Coloque os fragmentos em ordem de maneira que o
suspense de mantenha.
( ) No dia seguinte, o candelabro é
encontrado no quarto do mordomo, que passa a ser o principal suspeito do crime.
( ) Coronel Mostarda, dona Branca e sr.
Marinho estão reunidos na casa de campo da srta. Rosa para um fim de semana. O
mordomo e uma cozinheira também estão presentes.
( ) Finalmente, descobre-se que o
senhor Mostarda é o assassino, pois são encontrados pequenos cacos de espelho
em suas roupas.
( ) Na tarde de sábado, o sr. Mostarda
discute com a srta. Rosa no salão de jogos. Ela lhe cobrava uma dívida, que ele
prometera pagar meses atrás.
( ) À meia-noite, o sr. Mostarda entra
no quarto da srta. Rosa e a mata batendo com um candelabro em sua cabeça.
( ) Na noite de sábado, é servido um
jantar no salão oval. Depois do jantar todos se recolhem a seus quartos.
( ) O detetive, no entanto, não está
convencido de que o mordomo seja o culpado, já que ele não teria motivos para
assassinar sua patroa.
( ) Na saída do quarto, o sr. Mostarda
esbarra com o candelabro em seu espelho. Ouve-se o barulho do vidro quebrado.
Fonte: Grupo fechado de atividades compartilhadas no Facebook.